quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O trio Giripoca.Caetité-bahia -histórias da minha alma!

Esse texto foi publicado no grupo do facebook,Causos de Caetité e faz parte da minha vida , nessa cidade onde nasci e passei os melhores anos da minha adolescêcia.
O Carnaval de Caetité,o Trio Giripoca e as meninas do trio.

Em Caetité, as festas sempre começavam muito antes... E haja festa.
Em meu primeiro carnaval tínhamos, minhas primas e eu, 12 a 13 anos de idade. Mas a força que moveria nossas vidas já estava sendo gerada.
Havia nossas turmas e chegava o tempo de armar o trio Giripoca. Nesse processo, tínhamos de angariar fundos com município  e todo mundo, arranjar instrumentos para  os tocadores e resolver os pormenores. Eu me lembro até  que uma vez tomaram emprestado o cavaquinho que meu pai herdara de uma tia querida e ele nunc a mais voltou.
Éramos meninas desabrochando e inocentes como todas são, embora não pareça às vezes. Os rapazes como meus amigos Márcio, Marco Antonio, Momon e muitas outas sumidades, Giripoca , o próprio e principalmente os músicos, todos eram ídolos lindos e nós os adorávamos e queríamos fazer tudo para chamar a sua atenção.
Então, quando finalmente chegava o tão esperado sábado de carnaval, o trio iria sair na alvorada. Nós três Íamos dormir na casa de Vovó Doninha e Vovô Tobias, as três na mesma cama de casal. Dormir, dormir, era modo de falar, porque além das brincadeiras e pirraças, a noite era de pura vigília, que meus avós, sempre a frente do seu tempo, ou  simplesmente como bons avós ,entendiam e suportavam bem. Qualquer barulho, o menor som na noite e pensávamos que já era o trio vindo lá do Baraúna Tênis Clube .
Duas, três, quatro horas da manhã, de meia em meia hora, havia sustos, pirraças e alarmes falsos. Mas como toda noite de espera, chegava a alvorada, maravilhosa, a alvorada do trio! Abrindo o sonho do carnaval, nosso primeiro!
Saltávamos as três da cama e íamos para a varanda da Rua Dois de Julho, junto do poste que tinha um  transformador  de alta tensão, mas cuja energia jamais chegaria  ao pé da nossa. Lá vem ELE, lá vem o som  do “pombo correio”, não tinha letra, mas com uma melodia que sozinha e com excelência fazia-se  entender e vibrar nossas alminhas de flores meninas. As três de ponta de pé na varanda, o som chegando e nós cantando e pulando. Vovô vinha tomar conta.
Era um suspense total e descia a ladeira, lindo, colorido, pintado com as próprias mãos de nossos amigos, nossa gente, inteiramente nosso! Aquela carga , aquele  som e uma gente linda, com instrumentos mágicos chegava  finalmente até nós, envolvendo, tomando e, para a glória total,  dava uma diminuída de velocidade em nossa frente especialmente  para homenagear nossa felicidade!
Vassourinhas, frevos, samba e um quase rock n roll tocavam toda a magia existente naquele momento...
A madrugada sempre fria de Caetité e o ar de montanha explodiam de calor...
Era um sonho muito lindo. Era o amanhecer da  nossa juventude!
O trio descia até a Bomba tocando e nós, reféns da idade e da condição feminina, pulávamos na varanda, mas acompanhando com a alma  a trajetória do carnaval enfim chegado!
                O coração a mil, como ele, o trio, como a vida que então era sonhos, sem medo nenhum do futuro!  Nossa geração não conhecia a depressão, a solidão ou a velhice abandonada, tudo era aconchego e brilho, esperanças e possibilidades. Éramos naquele momento o que toda adolescente deveria ser sempre.
E ele contornava a Bomba e subia de volta, com sorrisos e acenos dos belos rapazes. Nós éramos então as Rainhas do Trio e recebíamos com louvor a coroa e o cetro! Deviam ter muitas outras rainhas e princesas  pelo caminho percorrido .Rainhas da Rua Barão na descida, rainhas da Praça  no meio de  tudo, rainhas da Avenida  Santana na subida, rainhas  princesas do som pra todo lado, mas, para nós três ,não significavam nenhuma  concorrência , aliás, nem existiam. Eram as três poderosas, as meninas do trio. As donas da madrugada, do carnaval e do mundo!
Para frente, nos próximos dias viria o trio na  praça, a  pura festa ,a  enxurrada de gente colorida e os primeiros olhares  sensuais das nossas vidas . As fantasias boladas por nós e costuradas por Mamãe, tia Inis e tia Nice, envolvidas em nossa alegria, tudo era cor, luz e som. E até as confusões eram pura emoção.
Valeu Giripoca! Ave e axé  para todos os que te fizeram acontecer, gerando música e sonhos, gerando outros carnavais daí e do mundo, durante mais de 30 anos de folia e até hoje quando um trio toca, do menor ao maior, você vibra junto em nosso coração, com todos os Mega Hair!
Haja Dodô, Osmar, Armandinhos, Morais Moreiras ,Babies e Ademares, Chiclete-com-banana, Asas de Águia e Beijos e Cheiros de muitos amores. Haja bandas Reflexus e Mel, Haja Buck Jones , Missinho, Netinhos, Luís caldas e Saras Janes, Marcias freires , Danielas e Ivetes ! Haja sempre mais e mais... Mas você foi o primeiro, o maior de Caetité! Porque ousou do nada, o sonho eterno da alegria! Você nos criou adolescentes mulheres felizes, mulheres carnavalescas e sonhadoras.
Viva para sempre, com seus criadores, músicos, foliões e plateias! Viva na história de Caetité e dos seus filhos, amigos e amantes! Viva em cada som que romper as madrugadas.
Pois atrás do trio elétrico, feliz  foi até quem já morreu!