Esse texto foi publicado no grupo do facebook,Causos de Caetité e faz parte da minha vida , nessa cidade onde nasci e passei os melhores anos da minha adolescêcia.
O Carnaval
de Caetité,o Trio Giripoca e as meninas do trio.
Em Caetité, as festas sempre
começavam muito antes... E haja festa.
Em meu primeiro carnaval tínhamos, minhas primas e eu, 12 a 13
anos de idade. Mas a força que moveria nossas vidas já estava sendo gerada.
Havia nossas turmas e chegava o
tempo de armar o trio Giripoca. Nesse processo, tínhamos de angariar fundos com
município e todo mundo, arranjar
instrumentos para os tocadores e resolver
os pormenores. Eu me lembro até que uma
vez tomaram emprestado o cavaquinho que meu pai herdara de uma tia querida e ele
nunc a mais voltou.
Éramos meninas desabrochando e
inocentes como todas são, embora não pareça às vezes. Os rapazes como meus amigos
Márcio, Marco Antonio, Momon e muitas outas sumidades, Giripoca , o próprio e
principalmente os músicos, todos eram ídolos lindos e nós os adorávamos e
queríamos fazer tudo para chamar a sua atenção.
Então, quando finalmente chegava
o tão esperado sábado de carnaval, o trio iria sair na alvorada. Nós três Íamos
dormir na casa de Vovó Doninha e Vovô Tobias, as três na mesma cama de casal. Dormir,
dormir, era modo de falar, porque além das brincadeiras e pirraças, a noite era
de pura vigília, que meus avós, sempre a frente do seu tempo, ou simplesmente como bons avós ,entendiam e
suportavam bem. Qualquer barulho, o menor som na noite e pensávamos que já era
o trio vindo lá do Baraúna Tênis Clube .
Duas, três, quatro horas da manhã,
de meia em meia hora, havia sustos, pirraças e alarmes falsos. Mas como toda noite
de espera, chegava a alvorada, maravilhosa, a alvorada do trio! Abrindo o sonho
do carnaval, nosso primeiro!
Saltávamos as três da cama e íamos para a varanda da Rua
Dois de Julho, junto do poste que tinha um transformador
de alta tensão, mas cuja energia jamais chegaria ao pé da nossa. Lá vem ELE, lá vem o som do “pombo correio”, não tinha letra, mas com uma
melodia que sozinha e com excelência fazia-se
entender e vibrar nossas alminhas de flores meninas. As três de ponta de
pé na varanda, o som chegando e nós cantando e pulando. Vovô vinha tomar conta.
Era um suspense total e descia a ladeira, lindo, colorido,
pintado com as próprias mãos de nossos amigos, nossa gente, inteiramente nosso!
Aquela carga , aquele som e uma gente
linda, com instrumentos mágicos chegava
finalmente até nós, envolvendo, tomando e, para a glória total, dava uma diminuída de velocidade em nossa
frente especialmente para homenagear
nossa felicidade!
Vassourinhas, frevos, samba e um quase rock n roll tocavam toda
a magia existente naquele momento...
A madrugada sempre fria de Caetité e o ar de montanha explodiam
de calor...
Era um sonho muito lindo. Era o amanhecer da nossa juventude!
O trio descia até a Bomba tocando
e nós, reféns da idade e da condição feminina, pulávamos na varanda, mas
acompanhando com a alma a trajetória do
carnaval enfim chegado!
O coração a mil, como ele, o trio,
como a vida que então era sonhos, sem medo nenhum do futuro! Nossa geração não conhecia a depressão, a
solidão ou a velhice abandonada, tudo era aconchego e brilho, esperanças e
possibilidades. Éramos naquele momento o que toda adolescente deveria ser
sempre.
E ele contornava a Bomba e subia
de volta, com sorrisos e acenos dos belos rapazes. Nós éramos então as Rainhas do
Trio e recebíamos com louvor a coroa e o cetro! Deviam ter muitas outras
rainhas e princesas pelo caminho
percorrido .Rainhas da Rua Barão na descida, rainhas da Praça no meio de
tudo, rainhas da Avenida Santana na
subida, rainhas princesas do som pra todo
lado, mas, para nós três ,não significavam nenhuma concorrência , aliás, nem existiam. Eram as
três poderosas, as meninas do trio. As donas da madrugada, do carnaval e do
mundo!
Para frente, nos próximos dias viria o trio na praça, a
pura festa ,a enxurrada de gente
colorida e os primeiros olhares sensuais
das nossas vidas . As fantasias boladas por nós e costuradas por Mamãe, tia
Inis e tia Nice, envolvidas em nossa alegria, tudo era cor, luz e som. E até as
confusões eram pura emoção.
Valeu Giripoca! Ave e axé para todos os que te fizeram acontecer,
gerando música e sonhos, gerando outros carnavais daí e do mundo, durante mais
de 30 anos de folia e até hoje quando um trio toca, do menor ao maior, você
vibra junto em nosso coração, com todos os Mega Hair!
Haja Dodô, Osmar, Armandinhos,
Morais Moreiras ,Babies e Ademares, Chiclete-com-banana, Asas de Águia e Beijos
e Cheiros de muitos amores. Haja bandas Reflexus e Mel, Haja Buck Jones , Missinho,
Netinhos, Luís caldas e Saras Janes, Marcias freires , Danielas e Ivetes ! Haja
sempre mais e mais... Mas você foi o primeiro, o maior de Caetité! Porque ousou
do nada, o sonho eterno da alegria! Você nos criou adolescentes mulheres
felizes, mulheres carnavalescas e sonhadoras.
Viva para sempre, com seus criadores,
músicos, foliões e plateias! Viva na história de Caetité e dos seus filhos,
amigos e amantes! Viva em cada som que romper as madrugadas.
Pois atrás do trio elétrico,
feliz foi até quem já morreu!